A professora mestre Carolina Taciana Pinati ministrou palestra no dia 18 de maio sobre inclusão social inserida no espaço pedagógico e as carências didáticas e estruturais das instituições no tratamento aos deficientes físicos e intelectuais. A palestra, que fez parte da 15ª Semana dos Museus, promovida pelo curso de História, foi realizada no auditório do Colégio Tiradentes da Polícia Militar e contou com a presença de alunos dos cursos de Pedagogia, História e Jornalismo.
Docente e coordenadora do Núcleo de Psicopedagogia da UEMG Unidade Passos, Taciana Pinati relata a partir de suas experiências na área, a necessidade da desconstrução do senso comum em relação às limitações do aprendizado das pessoas com deficiência e os desafios da alfabetização destes indivíduos em um país onde, 38% da população correspondem a analfabetos funcionais.
Segundo a professora, a tentativa de inclusão nas escolas é feita de maneira vexatória, em um contexto de distanciamento dos demais. Afirma ainda que o fato do aluno estar matriculado na instituição não garante a devida integração dele junto à comunidade, e que para sua construção cidadã é preciso recriar o modelo educativo.
“Na maioria dos casos, devido à incapacitação de professores e coordenação, o quadro do aluno não é estudado, e, portanto, a adaptação não ocorre. Sendo a evasão, comumente o desfecho desta situação que evidencia o descaso governamental na formulação de políticas públicas que melhor acolham estes grupos. Quando você faz a diferença na vida de 30 alunos é ótimo, mas se você faz a diferença na vida de um que todos desistiram, é ainda melhor”, afirma Pinati ao reforçar que, o comprometimento do educador com o estudante, a utilização de uma didática criteriosamente adaptada e o cuidado deste como ser social dotado de atributos, torna possível sua agregação e acompanhamento no processo pedagógico.
Para ressaltar a questão de como esse ensino pode ser muito importante para os estudantes, Taciana levou a aluna Luana Aparecida Dias Marques, 11 anos, estudante do 6º ano da Escola Estadual Nazle Jabur, no bairro Santa Luzia que chegou até ela sem saber ler nem escrever. Com uma alegria contagiante, Luana disse que só poderia agradecer sua professora, e as duas eram só abraços e sorrisos, o que comoveu a platéia e não teve como segurar as lágrimas.
A professora foi saudada por palmas eufóricas que duraram mais de um minuto ao final de sua apresentação e confessou que foi gratificante participar de uma história como a de Luana “o médico quando ele salva uma vida, é uma glória para ele, mas quando você também alfabetiza, você também salva uma vida”, salienta.
Porém, não tanto quanto o depoimento dos avós da menina (levados a força pela neta até o palco). A avó chegou a chorar ao contar o quanto Carolina estava sendo extremamente importante na vida daquela família, e o quanto ela tinha a agradecer a professora, que trata com muito carinho todos os seus estudantes. (Confira entrevista com os avós no final desta matéria).
Para Andrey Paris, aluno do curso de História da UEMG foi um momento além de emocionante, impactante o depoimento de Luana e seus avós. “Percebi como a educação pode mexer positivamente com toda uma família. Entendi que o método de ensino atual deve ser refeito, pois ele tem uma visão pouco inclusiva, onde não se dá atenção às inteligências múltiplas, e sim a quem consegue assimilar e decorar mais matérias”, disse.
Nicole Ribeiro, aluna do 1º Período de Letras afirma que a palestra ajudou-a a enxergar as coisas diferentes. “Passei a pensar melhor com relação à inclusão que realmente até agora não tinha me tocado. Sabemos que a educação do país é um dos maiores problemas atuais, mas quando juntamos o problema da exclusão de crianças com algum tipo de deficiência, esse problema se intensifica. Para que haja uma harmonia escolar todos da instituição devem se preocupar e ajudar no processo de inclusão. Muitas escolas não querem mudar porque se acomodaram”, aponta.
“Luana é nossa razão de viver”
Após a palestra os avós de Luana Aparecida Dias Marques, o zelador Pedro Henrique Dias e a dona de casa Maria Geralda Reis Dias concederam esta entrevista aos alunos do Curso de Jornalismo da UEMG Unidade Passos para o projeto de extensão Foca na UEMG.
Foca na UEMG - Fala um pouco sobre sua neta?
Maria - Eu a crio desde que nasceu, porque a minha filha Aparecida Kátia Dias, mãe de Luana precisa de ajuda para poder trabalhar. Ela é enfermeira e tem os horários muito complicados, por isso eu cuido dela. Inclusive, às vezes a Luana me chama de mãe, ela é minha vida, minha razão de viver.
Foca na UEMG - Quando a senhora percebeu que a Luana tinha dificuldades?
Maria - Sempre soubemos da possibilidade de a Luana ter alguma dificuldade. Afinal, desde que ela nasceu apresentava problemas de saúde. A complicação foi já no parto. Pelo relato médico ela estava com o cordão umbilical envolto no pescoço. No dia do seu nascimento aconteceram outros dois partos com as mesmas complicações, porém as crianças faleceram. Então, desde o nascimento, agradecemos pela sua vida e soubemos que ela seria uma criança especial. Luana toma remédio controlado e se ela não tomar desmaia. Isso gerou um certo retardo no aprendizado. A professora a encaminhou para o acompanhamento com a Carol (Carolina Taciana Pinati) do Núcleo de Psicopedagogia da UEMG Passos, onde ela tem tido o acompanhamento e se desenvolvendo muito bem. É uma parceria também com a escola.
Foca na UEMG - Ela é a única neta da senhora?
Maria - Não. Luana tem um irmão, um menino de 4 aninhos, ele é bem ativo, ele já sabe ler e escrever.
Foca na UEMG - Quais suas expectativas pra ela?
Maria - As melhores, as melhores possíveis, nossa ela é minha vida eu não consigo viver sem essa menina, ela é mais que minha filha, eu tenho dois filhos.
Foca na UEMG - Com quantos anos ela foi para o Núcleo?
Maria - Já tem três anos e vem se desenvolvendo bem lá.
Foca na UEMG - Ela frequenta em qual período?
Maria - Ela vai uma vez por semana das 10h as 11h e vai para a Nazle Jabur no período da tarde.
Foca na UEMG - Luana tem um rosto belíssimo, é alta para sua idade e diz que quer ser professora e modelo. Como vocês vão fazer para ajudá-la?
Maria - Ela terá nosso total apoio. Se por um acaso ela conseguir ser modelo, eu a acompanho para qualquer lugar do mundo. Mas isso está nas mãos de Deus.
Foca na UEMG - Pedro, como é para o senhor passar por todo o processo educacional junto com a sua neta?
Pedro - É um processo complicado, delicado, a Luana necessita de muito carinho e atenção, e infelizmente hoje, como todos precisam trabalhar, é difícil dedicar a quantidade de tempo que gostaríamos, mas como os pais dela trabalham até mais tarde, no período em que chego do trabalho, sou eu quem ensina as tarefas de casa, levo para a escola quando não estou no horário de trabalho. Vou fazer tudo que puder por ela enquanto estiver vivo.
Foca na UEMG - Hoje, vendo a Luana saudável, aprendendo e superando os seus obstáculos com tanta força e alegria como é saber que teve sua participação nesse processo, e que é muito importante na vida dela?
Pedro - Nós não temos nem como expressar, pois são tantas pessoas, tantos médicos e instrutores, como o exemplo que vimos da professora Carolina. Agradeço primeiramente a Deus e depois aos instrutores. O sentimento é de gratificação e orgulho por ver minha neta como está hoje.
Texto: alunos do 1º Período de Jornalismo (Julia Martins, Laura Oliveira Hostalácio, Lucas Ferri, Cláudia Dias, Laura Abreu, Itallo Andrade, Bárbara Carvalho, Hannah Dias, Ronilson Amorim e Jaciara Lima)
Entrevista com avó: Gabrièlle de Faria Sarro, Julia Martins, Layza Souza e Letícia Pereira
Entrevista com avô: Maria Alice Silva dos Santos e Carolina Antonino
Fotos: Maynara Aislin, Lorena Arantes