José Eustáquio de Brito; Dijon Moraes Jr.; Frei Chico e Joaquim Cabral na cerimônia de entrega da honraria
O nome é estrangeiro, Franciscus Henricus van Der Poel, porém o fervor pela cultura popular aliada à religiosidade não poderia ser mais brasileiro. Frei Chico, como é conhecido o religioso holandês radicado no país desde a década de 1960, é o responsável por uma obra superlativa sobre cultura e religiosidade nacionais, o Dicionário de Religiosidade Popular, compêndio lançado em 2013 e que necessitou de mais de 40 anos de pesquisa pelo interior do Brasil, oito deles somente no Vale do Jequitinhonha, no estado de Minas Gerais.
O respeito e devoção que o frei franciscano apresenta pelos saberes do cidadão comum e pelo seu intento de registro e perpetuação de manifestações banhadas por cunho religioso, místico e/ou culturais fizeram com que seu nome fosse indicado pela Universidade do Estado de Minas Gerais à Comenda da Paz Chico Xavier, honraria outorgada anualmente pelo Governo de Minas Gerais em homenagem a pessoas físicas ou jurídicas que trabalham pela paz e pelo bem-estar social.
Frei Chico recebeu a honraria na manhã do dia 10 de abril, na Cidade Administrativa, pelas mãos do presidente do Comitê Permanente da Comenda da Paz Chico Xavier, o procurador de Justiça Joaquim Cabral, acompanhado pelo reitor e vice-reitor da UEMG, respectivamente os professores Dijon Moraes Júnior e José Eustáquio de Brito.
Moraes Júnior afirmou que sempre acompanhou com admiração trabalho do Frei, desde quando criou os Trovadores do Vale, na década de 1970, um grupo vocal formado somente por pessoas simples, e, depois, frequentando as edições do Festivale, longevo festival de música popular realizado na região do Vale do Jequitinhonha, do qual o pesquisador costumava participar. “Acompanhei essa trajetória do Frei Chico, então, quando tivemos a oportunidade de indicar um nome para o recebimento de uma honraria, não pensamos senão em oferecer a ele uma Comenda da Paz”, afirmou.
Satisfeito com o reconhecimento, o religioso enalteceu a trajetória e personalidade de Chico Xavier e revelou seu profundo respeito aos preceitos e seguidores da doutrina espírita. “Em meu trabalho, acredito na pluralidade como valor. Assim, é um prazer ser companheiro e estar associado ao nome de Chico Xavier, partilhar com ele a promoção da paz”, pondera.
Em visita à Reitoria da UEMG, o também músico, muito embora sem estar em posse do seu violão, que, segundo ele, “possui 30 vezes a palavra ‘paz’ em línguas diferentes”, entoou Beira-Mar Novo, canção tradicional do Vale do Jequitinhonha e que expressa toda a força e resistência daquele povo. Fez ainda questão de presentear a Universidade com um exemplar do Dicionário e iniciou conversas para participação em eventos de pesquisa e extensão, para futuramente remar seus diálogos também na Universidade, trazendo alvíssaras de quem mora na casca da lima ou no caroço do juá.
Sobre o agraciado
Francisco van der Poel (frei chico), nascido em Zoeterwoude na Holanda, no dia 03/08/1940. Frade franciscano desde 1960 e sacerdote católico desde 1967. Chegada ao Brasil em 17/11/1967. Pesquisador da cultura popular (tradição oral) no Vale do Jequitinhonha, durante 8 anos. Formador de lideranças.
Fundador do coral “Trovadores do Vale”, em Araçuaí em 1970. Autor de 7 livros sobre cultura e religiosidade popular (por ex. Dicionário da Religiosidade Popular, 2013, 1150 p.). Membro da Comissão Mineira de Folclore (1981), do Instituto Histórico e Geográfico de MG (1990). Conselheiro do Centro da Memória da Medicina da UFMG, docente no Instituto C. G. Jung de MG e palestrante na Secretaria Municipal do Meio Ambiente (BH). Músico da OMB, palhaço do “Pano de Roda” (BH). Presença em movimentos populares (folias, congados e terreiros afro-brasileiros), no meio artístico (música e teatro) e na mídia. Conferências em muitas universidades e congressos. Frei Chico também participou da edição do livro "Um olhar sobre o Congado das Minas Gerais, de autoria da Professora da UEMG, Cris Nery, escrevendo o texto "Congado: origens e identidade".