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UEMG colaborará com trabalhos de Comissão da OAB que estuda temáticas da escravidão
31/10/2016
Um acordo de cooperação técnica e científica entre a UEMG e a Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB/MG) deverá ser assinado nos próximos dias. A Universidade irá colaborar com as atividades da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil e de Combate ao Trabalho Escravo Contemporâneo (Cevenb – OAB/MG), na realização de trabalhos conjuntos sobre a temática, contribuindo em pesquisas, organização de publicações, eventos e outras atividades que possam emergir no âmbito dos trabalhos a serem realizados em parceira.
O anúncio da assinatura foi feito durante o ciclo de palestras realizado pela OAB/MG na última sexta-feira, 28, que teve como tema a Escravidão no Brasil ontem e hoje: suas consequências nos dias atuais. O reitor da UEMG participou da abertura do evento, elogiou a atuação da Comissão e colocou a Universidade à disposição para o levantamento de fontes históricas e para realização de pesquisas que possam ser utilizadas como registro ou fonte para embasar políticas públicas de combate ao trabalho escravo contemporâneo. “ A UEMG, com sua capilaridade em todo o estado, é um local privilegiado para a realização de pesquisas e estudos visando à colaboração do resgate histórico da narrativa sobre a escravidão e subsidiar políticas públicas”, proferiu.
Cooperação é desdobramento de trabalho conjunto anterior
O início da relação entre as instituições ocorreu há pouco mais de um ano, quando a Comissão foi criada pela OAB e um grupo multidisciplinar de profissionais, reunida originalmente para produzir um diagnóstico do período da escravatura no estado e suas consequências e resquícios na sociedade atual. Foi gerado um relatório preliminar de 155 páginas, entregue em dezembro de 2015, utilizando informações técnicas, provas jurídicas e testemunhais sobre as injustiças cometidas contra o povo negro durante o período escravista. “Não há muita diferença entre a prática escrava do século passado para a atual. A essência é a mesma, geralmente nas mesmas atividades. O pouco que muda é a concentração urbana e a forma de se fazer essa escravidão, que deixou de atingir apenas negros”, afirmou Daniel Dias, presidente do Cevenb, na época da entrega do relatório, para o site da OAB/MG.
A riqueza do material coletado e a possibilidade de estender e aprofundar os conhecimentos sobre o período histórico foi capaz de perenizar os trabalhos da Comissão, que seria inicialmente temporária, e buscar a colaboração de instituições como a UEMG, que teriam a mão de obra qualificada e a metodologia científica apropriadas para levantamento de fontes históricas documentais ou por meio de história oral.
A professora Beatriz Bento, atualmente diretora da Unidade Leopoldina, foi uma das autoras do relatório. A partir dos resultados, criou juntamente com o também professor Jorge Luiz Prata de Sousa, que já atuou como professor naquela Unidade, o projeto Educação, Cidadania e Identidade, que formará uma rede de pesquisadores em todo o estado para gerar pesquisas em seis eixos temáticos:
1) Cultura afro-brasileira: história e memória, que gerará um catálogo de fontes históricas sobre a escravidão no país;
2) Levantamento e mapeamento dos acervos de natureza jurídica: processos civis e criminais das comarcas de Minas Gerais – criação de uma cultura política pública de preservação e organização das fontes primárias em Centros e Arquivos de documentação jurídica, que embasarão pesquisas sobre a escravidão no Brasil e outras pesquisa correlatas;
3) História Oral das Comunidades Quilombolas e dos territórios de religiosidades brasileiras – com práticas de campo e análises documentais;
4) Crimes, marcas e vestígios da escravidão de pessoas negras no Brasil;
5) História e Memória da mulher negra em Minas Gerais: da escravidão aos tempos atuais
6) O trabalho escravo na contemporaneidade no Brasil
Segundo a professora Beatriz, após a assinatura do acordo, a expectativa é de ampliar o número de participantes, que até agora são de 32 pesquisadores de 12 Unidades Acadêmicas da UEMG em todo o estado, além de cinco professores convidados de outras instituições de ensino superior e seis colaboradores. “Nossa intenção é de que as pesquisas realizadas pelos pesquisadores da UEMG possam subsidiar ações, políticas públicas, mudanças nas legislações e declarações a serem encaminhadas pela Comissão da Verdade da OAB. Estarão se unindo aos pesquisadores da UEMG, pesquisadores de outras instituições de ensino, estudantes desta e de outras Universidades interessados na temática e profissionais da OAB/MG”, declara.
O início e cronograma dos trabalhos já estão sendo definidos entre a equipe participante e a expectativa é de que, além dos produtos previstos, haja a realização de pelo menos dois seminários temáticos durante o processo dos trabalhos. “Os seis grupos de trabalho estarão desenvolvendo as pesquisas simultaneamente. Apresentaremos seminários temáticos sobre o andamento dos trabalhos, sendo um deles ao final. Com os resultados geraremos publicações, artigos, catálogos, livros paradidáticos”, afirma.
Escravidão e curiosidade internacional
Sobre os ecos da escravidão no Brasil, o reitor contou aos presentes uma curiosidade de sua passagem pela Itália, onde cursou seu pós-doutorado em design. Em visita ao Grande Hotel de Milão para conhecer o local onde morrera o compositor clássico italiano Giuseppe Verdi (1813 -1901), deparou-se na entrada do local com uma estátua de um indígena combatendo uma cobra. Instigado pelo fato inusitado, questionou o significado da escultura e descobriu se tratar de monumento dedicado à abolição da escravatura no Brasil, já que o hotel teria sido também o local no qual o então imperador Dom Pedro II escrevera uma carta à princesa Isabel solicitando que declarasse o país livre da escravidão. “Gosto de contar esse fato para mostrar como ainda sabemos pouco sobre nossa própria história, em especial sobre a escravidão. Acredito que haja espaço para descobertas e reflexões sobre registros históricos e discursos sobre o tema e nossa Universidade irá auxiliar esse resgate historiográfico e cultural”, afirmou.
ASSESSORIA DE COMUNICACAO SOCIAL
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