Tecnologia social pelo desenvolvimento humano
08/07/2016
matéria da FAPEMIG - Tatiana Pires Nepomuceno
Um jogo de cartas que ensina libras, um aplicativo que aproxima as pessoas, um banco de dados que reúne informações econômicas de todo o país, um conhecimento tradicional capaz de gerar emprego e renda para uma comunidade. O que é afinal uma tecnologia social? O tema central da 68ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência é intrigante e requer reflexão acerca de seu significado.
Para a pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Climene Laura de Camargo, uma tecnologia social é um método ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema social e que atenda aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e geração de impacto social. Durante sua conferência Sustentabilidade e Tecnologias Sociais: Promoção do Desenvolvimento em Comunidades Vulneráveis, a pesquisadora destacou que, para desenvolver tecnologias sociais, é preciso conhecer e ouvir as comunidades. “Nós não estamos acostumados a ouvir a população. Queremos criar tecnologias sociais baseadas em nossas necessidades e não nas necessidades da população. Isso é um erro”, explica.
Climene falou de sua experiência de 20 anos à frente do projeto de pesquisa Crescer, que trabalha com o desenvolvimento de três comunidades quilombolas por meio da geração de renda através de produtos locais. A pesquisadora conta que no começo ela também não entendia as necessidades da comunidade. Enfermeira de formação, queria levar informações sobre saúde para a população. “Eu queria falar de saúde, mas o que eles queriam era emprego e renda. Foi aí que montamos a cozinha experimental e falávamos sobre saúde dentro da cozinha. Toda comunidade tem um conhecimento culinário para compartilhar”, conta. A partir daí, percebeu-se que a produção de doce de banana na palha podia ser uma alternativa de renda para a população de uma das comunidades, a Moreré.
A experiência narrada pela professora no projeto mostra como conhecer a realidade de cada comunidade é de fato determinante para definir como a população local pode se desenvolver. A comunidade da Maré, por exemplo, construiu uma fábrica de placas acústicas feitas com resíduos de fibras de dendê e piaçava que antes eram inutilizadas e, a de Monte Alegre, gera parte de seu sustento por meio da fabricação de persianas. Segundo a pesquisadora, cada população tem um perfil, uma lógica de atuação e um tempo próprio de resposta às ações.
Dificuldades
A pesquisadora se emociona ao falar do projeto, mas não deixa de destacar os diversos entraves que pesquisas relacionadas a tecnologias sociais e comunidades enfrentam. A ausência de ação do poder público, a baixa alta-estima e a falta de mobilização das próprias comunidades, as dificuldades para conseguir recursos e, quando se consegue, para realizar a prestação de contas junto aos órgãos de fomento, são algumas delas. “Os financiadores estão acostumados a lidar com projetos em laboratórios, não em comunidades, por isso a prestação de contas e a lógica de todo o processo ainda não é a ideal. Somos imensamente gratos aos órgãos de fomento que nos financiam, mas ainda é preciso avançar”, critica. Outro ponto abordado pela professora é a dificuldade de reconhecimento dos saberes tradicionais pela comunidade científica e pelos próprios moradores.
Depois de apresentar um documentário sobre o trabalho nessas comunidades, a pesquisadora respondeu a perguntas de uma plateia encantada e disposta a contribuir com o projeto, como é o caso do estudante de direito Danilo Ferreira, 23 anos. “Moro em Caravelas, que é cercada de diversas comunidades tradicionais que ainda não reconhecem o valor delas próprias. Quando eu me formar, quero trabalhar com direito ambiental e oferecer apoio jurídico a essas populações”, deseja.
ASSESSORIA DE COMUNICACAO SOCIAL
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