Universo trans e questões de gênero pautam capacitação da UEMG nessa semana
21/06/2016
Diretamente responsáveis pelo atendimento de estudantes em geral e também do público externo, secretários acadêmicos e bibliotecários da Universidade participam desde ontem (dia 20), na Reitoria da UEMG, de uma atividade intitulada Oficina de Diversidade Sexual e Gênero. Até sexta-feira (24), eles estarão envolvidos em uma série dinâmicas e bate-papos que pautam questões como identidade de gênero e direitos sexuais. Conduzidas pelo doutor e professor da UFMG Paulo Henrique de Queiroz Nogueira, as atividades têm foco especial no universo trans, que desde o ano passado entrou com mais força na pauta da UEMG, a partir da publicação da Resolução 149 da Universidade, que regulamenta o uso do “nome social” para os estudantes transgêneros, transexuais e travestis.
O professor doutor Paulo Henrique de Queiroz Nogueira
Na abertura dos trabalhos, uma discussão acerca das vantagens e desvantagens de ser homem ou mulher mobilizou o debate entre os presentes, que foram divididos em grupos. Falas sobre a maior liberdade dos homens, convivendo com o peso de ser constantemente viril, e destaques para a beleza de ser mãe, além de maior vulnerabilidade, no caso das mulheres, foram tomadas pelo professor para abordar conceitos como binarismo de gênero e sistema heteronormativo, que fundamentam o discurso sexista. “O sexismo é uma ideologia. É a forma como a gente compreende as relações entre homens e mulheres, e que hierarquiza as expressões do masculino e do feminino criando lógicas de subalternização”, explica Paulo Henrique.
No cartaz, "as desvantagens de ser homem" segundo um dos grupos que participaram da discussão sobre os papeis de cada sexo
Na sequência, ele apresentou uma diferenciação entre conceitos como sexo, gênero, orientação sexual e identidade de gênero. O sexo seria a condição de ser homem ou mulher biologicamente determinada pela genitália e pelos cromossomos. O gênero reúne as diferenças de expressão que enquadramos nas figuras do feminino e do masculino – a barba, por exemplo, é atributo do masculino. A orientação sexual responde pelo direcionamento do desejo: se é pelo mesmo sexo (homossexual) ou pelo oposto (heterossexual). Já a identidade de gênero é um traço plural, próprio de cada indivíduo, articulado no cruzamento dos conceitos anteriores, muitas vezes resultando em combinações complexas.
Ilustrando esse ponto, o doutor apresentou algumas figuras, como a cantora e modelo alemã, Kim Petras, que nasceu menino, mas ao crescer modificou o corpo para assumir a sua identidade feminina. Na perspectiva da identidade de gênero ela seria uma mulher trans heterossexual, já que se relaciona com o sexo oposto (homens) àquele no qual ela se encaixa.
Foto: divulgação
Na foto, Kim Petras, cantora e modelo alemã que ilustrou um dos pontos no bate-papo sobre as múltiplas identidades de gênero
Para além dessas complexidades de identificação, o professor Paulo Henrique reconhece que existe uma norma vigente expressa na oposição binária dos gêneros masculino e feminino. Esse não seria, no entanto, o maior obstáculo à defesa da diversidade, na opinião dele. O problema é quando a norma é tomada como a única forma possível de expressão e, mais, quando é usada para hierarquizar e suprimir direitos de quem difere dela.
“Os componentes que expressam a norma de gênero dão inteligibilidade aos nossos corpos. Então, a gente não pode tomar a decisão de que a norma não existe ou que vamos conseguir criar uma sociedade sem norma. O que temos que enfrentar são as violências que ela provoca. Ao lutarmos contra isso, a própria norma vai se tornar mais porosa, menos rígida, e ela vai ser capaz de entender que não existe apenas uma única forma de ser homem ou mulher. Há homens femininos e mulheres que são masculinas, e isso não significa que serão gays”, defende o pesquisador.
Debates e apresentações movimentaram a dinâmica da oficina voltada a funcionários da Universidade que atendem diretamente ao público em geral
Como resumo da mensagem assumida na capacitação, Paulo aponta que para as pessoas realmente aceitarem a diversidade devem começar questionando sua própria percepção de mundo. Exercício que deve ser contínuo e que é necessário ao combate das desigualdades: “Uma formação como essa é um começo importante. Um momento de parar para refletir como as instituições organizam esses valores e de se dispor a enfrentar um mundo que é desigual, e que na sua desigualdade acaba retirando direitos e tornando invisíveis uma série de pessoas. O combate à desigualdade inclui favorecer que a diferença se expresse, que a diferença venha a ser considerada na distribuição dos bens simbólicos e materiais”.
REITORIA
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