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Objeto de pesquisa da UEMG, cágado-da-paraíba ganha reserva ambiental
13/04/2016
Conforme divulgado no início dessa semana (saiba mais), o cágado-do-paraíba acaba de ganhar um instrumento estratégico para a sua preservação: a Reserva Ninho da Tartaruga, em Tombos, município da Zona da Mata Mineira. Às margens do Rio Carangola, a área servirá como santuário para a espécie – um dos 25 quelônios (animais com casco) mais ameaçados do planeta – e base para as pesquisas em torno do cágado.
Para falar sobre esse importante acontecimento, a Assessoria de Comunicação da UEMG convidou o professor e diretor da UEMG Unidade Carangola, Braz Cosenza, que coordena os trabalhos da Universidade no grupo de instituições articuladas em prol da espécie, por meio do Projeto ‘Cágado-do-Paraíba: pesquisa e conservação’ (assunto abordado na última edição do ‘Jornal da UEMG’ – reveja aqui):
Ascom UEMG - Como foi o processo para a constituição dessa reserva?
Braz Consenza - Desde a primeira versão do projeto, à época financiado por uma empresa do setor elétrico, já procurávamos uma área para a criação de uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), até porque se tratava de uma condicionante para a implantação de centrais hidrelétricas na calha do Rio Carangola. Como não foi possível realizar essa criação, o projeto foi em busca de parceiros internacionais na tentativa de levantar fundos para a criação de uma reserva próximo ao Rio Carangola, a fim de proteger as áreas de ocorrências do cágado.
A proposta de criação da reserva foi, então, viabilizada pela Rainforest Trust, Wildlife Conservation Society e Turtle Survival Alliance, que financiaram a compra de aproximadamente 150 hectares de terras no trecho de maior ocorrência do cágado, ao longo do rio. Trata-se da primeira reserva dedicada a uma espécie da fauna dulcícola (de água doce) em nosso país.
Ascom UEMG - A constituição dessa reserva representa a recuperação do habitat do cágado?
Braz Consenza - Não. Grande parte da área de ocorrência da espécie já foi totalmente destruída. Este animal ocorria desde do estado de São Paulo até chegar a Minas Gerais, por meio do Rio Carangola. Mas o local conquistado é extremamente importante, pois é um dos últimos sítios confirmados com população viável para a conservação do cágado. Outras ações de criação de áreas semelhantes podem se espelhar nesta e, assim, minimizar o impacto causado em toda a bacia do Rio Paraíba do Sul.
Ascom UEMG - Como se dará a gestão e manutenção da área?
Braz Consenza - A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma categoria de Unidade de Conservação particular criada em área privada, por ato voluntário do proprietário (no caso, a Fundação Biodiversitas, que é uma ONG), em caráter perpétuo, instituída pelo poder público.
Esta área será gerida pela Biodiversitas, por meio das parcerias instituídas com a UEMG Unidade Carangola, com o RAN-ICMBIO e com o Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental (CECO). No contexto deste trabalho conjunto é que a Fundação Biodiversitas irá definir o acesso ao local e seu por pesquisadores.
Ascom UEMG - A partir dessa conquista, quais são os próximos passos?
Braz Consenza - Criar uma estrutura física mínima na área, como cercamento, reforma das estradas internas, instalação de uma casa de apoio, além de continuar com as ações de educação ambiental e de pesquisa do projeto do cágado.
Ascom UEMG - Qual será a relação e uso da UEMG em relação à reserva?
Braz Consenza - A Unidade da UEMG em Carangola, como órgão dissemidador do tripé, Ensino, Pesquisa e Extensão, continuará a contribuir através de seus projetos, pesquisadores e estrutura para atender à parceria institucional firmada para apoiar as ações do Projeto Cágado-do-Paraíba.
Ascom UEMG - O que a aquisição da reserva representa para as ações do Projeto?
Braz Consenza - O Rio Carangola é um dos sítios da Alliance for Zero Extinction ou Aliança para Extinção Zero (AZE), uma iniciativa global que tem como estratégia a proteção dos últimos refúgios de espécies ameaçadas de extinção. Nesse sentido, a aquisição dessa área marca um importante divisor de águas para salvaguardar a espécie. Lembrando que o Mesoclemmys hogei, popularmente conhecido como cágado-de-hogei ou cágado-do-paraíba, figura na lista nacional de espécies da fauna ameaçadas de extinção (Instrução Normativa do Ministério do Meio Ambiente, no 444, de 14 de dezembro de 2014), e representa o único quelônio de água doce ameaçado no Brasil, com risco de extinção considerado extremamente crítico.
Finzalido o financiamento do Projeto, que até ano passado se dava com o aporte do Programa Socioambiental da Petrobras, estamos agora à procura de novos parceiros e fundos de pesquisa para continuar a gerir as ações de pesquisa e educação ambiental. Entre eles, editais da FAPEMIG e fundos internacionais de conservação.
Ascom UEMG - E o significado da conquista para você, que, além de pesquisador, é ativista nessa luta pela preservação do cágado?
Braz Consenza - Hoje sonhamos muito em conservar e proteger espécies, mas é caro e, muitas vezes, uma luta solitária, contra tudo e todos. A criação desta reserva é a materialização de todo o trabalho de várias mãos em prol do cágado-do-paraíba, e também de todas as espécies associadas a ele, bem como do próprio Rio Carangola.
CARANGOLA
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