Em oficina de quadrinhos, crianças narram cenas do dia-a-dia em comunidade carente
16/09/2015
O preto e branco. A ausência e a presença da cor. Por traços leves ou mais complexos, os desenhos ilustram vários cenários a fim de representar ambientes reais ou ficcionais. À medida que a produção avança, o desenho dá sentido a um contexto muitas vezes hostil, outras, cheio de ternura e esperança. E, assim, vão sendo criadas as identidades de personagens que habitam aquelas imagens, aquele contexto – em narrativas lúdicas traçadas pelas histórias em quadrinhos.
Foi por meio dessa arte que alunos da Escola Municipal Dr. Júlio Soares, no bairro Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte, receberam a visita da Professora de Design Eliane Raslan, da UEMG, para uma oficina de narrativas em quadrinhos, que aconteceu nessa segunda-feira, dia 14. Na oficina, as crianças tiveram aval para usarem o imaginário no processo criativo e desenharam coisas do dia-a-dia e até realidades alternativas, com roteiros diferenciados.
Os meninos e meninas, instruídas ainda por Edinaldo da Silva Pereira e a professora Michele de Araújo Martins Drummond, se mostraram animadas com a atividade. Para os professores, ali estava a mais pura manifestação da inocência infantil. Segundo eles, as crianças gostam muito da oficina de quadrinhos pois, dessa forma, elas podem se desligar um pouco do cotidiano e utilizar aquele espaço de expressão para se divertirem.
“Muitos dos nossos alunos vivem aqui na Comunidade. Alguns deles estão em uma situação de risco social, não apenas pela violência urbana, mas também pela abordagem do tráfico, que, infelizmente, faz parte do dia-a-dia das pessoas do Vera Cruz, inclusive das crianças”, refletiu a professora Michele. Segundo ela, com as oficinas, as crianças têm a possibilidade de desenvolverem suas habilidades e, talvez, encontrarem um caminho. “O importante é que, ao menos enquanto elas estão aqui no Centro, não são vítimas do assédio do tráfico. Tentamos fazer com que saiam daqui com princípios de direito à cidadania. É pouco, mas é importante”, ressaltou Michele.
Edinaldo Pereira, que orientava as crianças como monitor da oficina, sabe bem como é o cotidiano dessas crianças. “Vivi aqui boa parte da minha vida e sei como é pesada a vivência dessas crianças no bairro. Além de enfrentar problemas familiares, são poucas as oportunidades para criarem alguma perspectiva para suas vidas”, diz.
Para Edinaldo, as histórias em quadrinho, de alguma forma, ao fornecerem liberdade criativa, acabam por gerar um pouco dessa perspectiva. “Com o quadrinho, de forma lúdica, elas traçam um roteiro para suas vidas e podem criar outros ambientes, nos quais esperam ter uma vida menos dura. São apenas crianças e suas histórias são carregadas de esperança, de crença no futuro”, diz Edinaldo.
A professora Eliane Raslan, uma das mentoras do Núcleo de História em Quadrinho (NHQ) da Escola de Design da UEMG, chamou a atenção sobre a importância do desenho para a formação dos alunos, sobretudo se são permitidas as expressões da diversidade cultural e da identidade afrodescentente.
“Acredito que essa oficina pode significar um legado para essas crianças e verdadeiramente ser motor de transformação da realidade que as cerca”, diz Eliane. Como as produções das crianças são levadas para casa, seus professores e pais podem ter acesso às formas como elas enxergam suas vidas e como sonham outras realidades possíveis. “Por viverem aqui, essas crianças podem, melhor do que ninguém, ser os olhos e a voz da Comunidade por meio de seus quadrinhos. Quando as pessoas se deparam com a expressão da realidade, vinda do olhar de crianças, aquelas que mais representam a esperança, acabam por ter parâmetros para transformar a própria realidade”, finaliza Eliane Raslan.
Reportagem: Vinícius Xavier (2º Período/ Jornalismo – UEMG/Divinópolis)
Orientação: Prof. Gilson Raslan Filho
Universidade Estadual, Pública, Gratuita e Multicampi
Rodovia Papa João Paulo II, 4143 - Ed. Minas - 8º andar - Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves - Bairro Serra Verde - Belo Horizonte - MG - CEP: 31.630-900 - Tel: +55 (31) 3916-0471 Aspectos legais e Responsabilidades