Prisão de estudante negro mobiliza UEMG Faculdade de Políticas Públicas
16/04/2015
Segunda feira, 30 de março: “Era 19 horas quando cheguei à Faculdade de Políticas Públicas da UEMG, onde estudo. Ao trancar o meu carro, fui abordado por uma viatura da Polícia Militar. ‘O que você está fazendo aí?’. Respondi que era trabalhador. O sargento e o cabo saíram com armas em punho: ‘mão na cabeça, vagabundo, e cala a sua boca’. Conheço meus direitos. Vocês não podem me abordar dessa forma . Vou fazer uma representação contra vocês na Corregedoria, argumentei. Foi o suficiente para que a truculência aumentasse. Com violência, me algemaram. Em minha volta, colegas, professores e vizinhos começaram a protestar. Senti medo, vergonha e indignação. As pessoas que me defendiam também eram ameaçadas e coagidas a não registrar o que estava ocorrendo. Me jogaram para dentro da viatura”. (...)
Tem início, nesses termos, o relato dramático feito pelo estudante negro Pedro Henrique Afonso, preso na porta da FaPP, sob a acusação de estar roubando o próprio carro e por, supostamente, desacatar a autoridade policial protagonista desse ato.
Esse episódio tem mobilizado a Comunidade Acadêmica da FaPP não só para prestar solidariedade ao estudante como também para debater questões relacionadas ao “racismo institucional” sob a perspectiva das políticas públicas.
Assim, no último dia 9 de abril, foi organizado na FaPP um ato de solidariedade ao estudante, que contou com a presença da direção da Unidade, professores, servidores e estudantes dos diversos cursos, além da Pró-Reitora de Extensão, Professora Vânia Costa e do Vice-Reitor, Professor José Eustáquio de Brito.
Como parte da programação, foram apresentados, pela Professora Neimar Azevedo, dados coletados da pesquisa da Fundação João Pinheiro, “Mecanismos de filtragem racial na atividade policial: o caso de Minas Gerais”. O debate em torno do tema fez perceber que a abordagem sofrida pelo estudante Pedro Henrique pode ser explicada a partir da configuração de estereótipos que tipificam o perfil de potenciais suspeitos, que tem no pertencimento racial a sua principal característica. “Infelizmente, a situação constrangedora vivida pelo Pedro Henrique tem sido uma constante no cotidiano de jovens negros do sexo masculino em nosso País”, sintetizou o Vice-Reitor.
Entretanto, o caso demanda a tomada de atitudes por parte da Universidade para que situações como essa possam ser enfrentadas no cotidiano. Durante o evento, foi proposta a formação de um Grupo de Trabalho na FaPP para aprofundar o debate e desenvolver ações em torno do tema. Além dessa iniciativa, os representantes da reitoria se comprometeram a notificar o ato junto à Secretaria de Estado de Defesa Social e à Secretaria de Direitos Humanos. Na audiência marcada para essa semana no Juizado Especial Criminal, Pedro Henrique será acompanhado por dois professores da FaPP, além do advogado Willian Ferreira, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogado do Brasil, OAB.
Pedro Henrique (à direita) em evento na UEMG.
REITORIA
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