Matéria mostra o destaque de discentes da UEMG na consolidação do universo afrofuturista em Minas Gerais
12/03/2018
Extraído da matéria 'Artistas criam universo ficcional afrofuturista' do Portal Uai
O movimento artístico, que coloca em diálogo tradição e ancestralidade, ampliou a visibilidade nas referências estéticas do filme Pantera Negra, da Marvel
O filme Pantera Negra mescla tecnologia e elementos da cultura ancestral da África (foto: Marvel/Divulgação)
A estética do filme Pantera Negra, produção da Marvel com a maioria do elenco formada por atores e atrizes negros, mistura elementos das tradicionais tribos africanas com referências tecnológicas futuristas. O longa mostra Wakanda, nação mítica em que tradição e modernidade, unidas, trazem harmonia aos povos da África. Tais referências dialogam com o movimento afrofuturista.
Cunhado pelo teórico Mark Dery no ensaio Black to the future, publicado em 1994, o termo se refere à produção da arte negra na música, literatura, cinema e artes plásticas. “Afrofuturismo é tecnologia, ancestralidade e ficção. Propõe um diálogo com o futuro, mas a partir do tempo presente. Partimos da arte africana e depois para a arte afrodiaspórica”, explica a multiartista Zaika dos Santos, um dos expoentes do afrofuturismo em Minas.
Zaika esclarece que há uma diferença significativa desse movimento em relação ao futurismo. No caso do afrofuturismo, trata-se do o diálogo com a tradição e a ancestralidade. Já o futurismo é um movimento artístico e literário que lançou suas bases em manifesto publicado em 1909.
A mineira, de 30 anos, desenvolve trabalho autoral nas artes plásticas e na música tendo como referência a discussão sobre o afrofuturismo. Ela começou pelo hip-hop, como mestre de cerimônia (MC), e ampliou a pesquisa para outros campos. Pondera que o conceito foi citado pela primeira vez por Mark Dery, pesquisador branco, mas diz que a ideia é anterior a ele, citando a atuação do músico Sun Ra, na década de 1960, ações do movimento político Panteras Negras, nos EUA, e o movimento blaxploitation, no cinema. “O filme Wattstax ficou conhecido como o Woodstock negro”, lembra Zaika.
Cursando artes plásticas na Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Zaika desenvolve a pesquisa Nok é nagô, que permite investigação acadêmica sobre o conceito e experimentação em diferentes linguagens. Ela trabalha com performance, fotografia e pintura.
Na mostra Perplexa, por exemplo, realizou a performance Nagô, convidando oito trançadeiras para fazer as maiores tranças, que ela própria usou. Dessa forma, propõe uma discussão cara à mulher negra: a estética do cabelo como afirmação política de lugar de pertencimento. “Em Nagô, discuto estética, política, ancestralidade, cultura e estrutural social”, afirma.
Zaika dos Santos (foto: Júlio Leão/Divulgação)
Outro projeto dela envolve trabalhos fotográficos com mulheres integrantes da Ocupação Tina Martins. Uma de suas performances evoca os adinkras, símbolos do povo akan. Akofena, que significa justiça, dá nome ao novo disco de Zaika, que trabalha com o símbolo aya, que significa resistência. Os adinkras são parte de outra performance em que Zaika constrói e se veste com um manto sagrado, outra referência à história dos africanos.
Paulo Mendonça, estudante de design gráfico da Uemg, levou o conceito de afrofuturismo para o seu trabalho de conclusão de curso. “Vi ali a oportunidade de discutir a falta de editoriais gráficos negros e a falta da representação da estética negra enquanto referência para a contemporaneidade. O tema me permitiu atravessar demandas dentro da universidade e fora dela”, explica.
Mendonça se dedica ao universo afrofuturista desde 2015, quando criou um trabalho em parceria com Zaika no projeto Afrofuturik.
Afrofuturismo foi tema da pesquisa acadêmica do estudante de design Paulo Mendonça (foto: Paulo Mendonça/Divulgação)
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