Estudo internacional com participação de pesquisadora da UEMG avalia efeitos da exploração madeireira de impacto reduzido
26/10/2017
Pesquisa demonstra que mesmo baixos níveis de exploração levam à perda de biodiversidade na Amazônia
‘Identifying thresholds of logging intensity on dung beetle communities to improve the sustainable management of Amazonian tropical forests’ (algo como “Identificando limiares de intensidade de exploração madeireira nas comunidades de escaravelhos para melhorar o manejo sustentável das florestas tropicais amazônicas”), é o título do artigo que será publicado, em dezembro, no periódico Biological Conservation, e que contou com a participação da Dra. Vanesca Korasaki, professora da UEMG Unidade Frutal. O estudo – já disponível online, em inglês – examinou os impactos da intensificação do corte seletivo nos besouros escarabeídeos (conhecidos popularmente como “rola-bosta”) e nos processos ecológicos que eles realizam, como remoção das fezes e movimentação do solo.
“Nossas descobertas evidenciam que as consequências do manejo florestal de impacto reduzido dependem grandemente da escala que ele é aplicado e da intensidade de remoção de madeira que é aplicada”, explica Vanesca Korasaki. Contando com a atuação também dos cientistas Dr. Filipe França, pesquisador na Lancaster University e na Universidade Federal de Lavras (UFLA); Fábio Frazão, mestrando na Memorial University of Newfoundland (Canadá); Júlio Louzada, da UFLA; e Jos Barlow, da Lancaster University e do Museu Paraense Emilio Goeldi, a pesquisa utilizou os besouros para identificar as consequências do aumento da intensidade de remoção de madeira sobre a biodiversidade e o funcionamento das florestas amazônicas, com o objetivo final de aprimorar o manejo sustentável.
As coletas de campo ocorreram em 34 diferentes sítios de coleta, apresentando diferentes intensidades de madeira removida, localizados em florestas do Pará, segundo maior estado do Brasil – cerca de 544.000 hectares de florestas nativas (3,5 vezes o tamanho de Londres) – e área foco para esforços de conservação da Amazônia brasileira. Os pesquisadores coletaram os besouros antes e após à exploração madeireira, permitindo maior acurácia na avaliação dos impactos desse distúrbio florestal.
Para os cientistas, alguns resultados foram surpreendentes. “Contrário as nossas expectativas, nós encontramos uma relação côncava entre intensidade do corte seletivo e biodiversidade/processos ecológicos. Isso demonstra que espécies de besouro mais sensíveis e importantes processos ecológicos podem ser perdidos mesmo quando distúrbios de baixa intensidade acontecem nas florestas tropicais”. O número de espécies, a biomassa e composição das comunidades de besouros, bem como as taxas de movimentação do solo, reduziram com o aumento da intensidade de corte seletivo.
De posse nos resultados, os pesquisadores ponderam que a produção madeireira na Amazônia precisa reconsiderar a escala espacial na qual o corte seletivo é regulado. O atual novo código florestal recomenda que as unidades de planejamento anual da Amazônia devam manter 15% das árvores grandes (ou três grandes indivíduos) para cada 100 hectares como matrizes para a produção de sementes das espécies. Os resultados indicariam que limitando o corte seletivo em menor escala (aproximadamente 10 ha) pode também ser importante para o valor de conservação das florestas, e principalmente que a manutenção de grandes reservas florestais sem distúrbio é essencial para a conservação da biodiversidade tropical.
Manejo sustentável
Mais de 403 milhões de hectares de florestas tropicais em todo o mundo estão atualmente destinadas para a produção madeireira através do corte seletivo, atividade econômica comum na maioria dos países tropicais. Estima-se que cerca de 4,5 bilhões de m3 de madeira comercial estão presentes apenas na Amazônia brasileira, que é responsável por 85% de toda a produção de madeira florestal na região neotropical.
FRUTAL
|