Cada época exige da Escola Guignard, conforme a demanda, uma resposta:
abrigo, sobrevivência, permanência e reconhecimento. O desafio de hoje é o
desenho. O desenho é especificidade da Escola que se baseia na liberdade
com disciplina. Guignard nos ensina a ver o mundo, através de uma livre,
porém, disciplinada visão internalizada pelo olhar afetivo.
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O Desenho e a pintura, dentre as formas de expressão conhecidas das artes
plásticas, possibilitam o desenvolvimento da capacidade de criar e
despertam no artista o envolvimento com uma linguagem plástica específica
capaz de exprimir uma visão humanizada, própria e estética do mundo.
O homem entra em contato com o mundo visível através da visão. O fato de
observar implica no ato de olhar e de ver e, então enxergar. Desperta o
interesse em ver e olhar as coisas. Conduz a um conhecimento específico que
se amplia a partir da observação. O artista olha o mundo, observa e
vê, posteriormente
enxerga com um olhar transformado. Aprende a distinguir o olhar do ver e a
enxergar. Observar o mundo desperta no artista o senso estético.
A partir desta relação inicia-se uma integração entre o ver e olhar
conduzindo a um “verolhar”. Essa ação integrada está em perfeita
consonância na relação entre o que se olha e o que se quer ver e, através
do olhar perfaz a síntese de enxergar. Toda esta dialética está em perfeita
harmonia com a intuição criadora e com o fazer.
O ato de desenhar exige uma atenção especial na conduta da visão, implicado no
fato de olhar e ver e, também fazer, que decorre de um desejo de
representar o que se vê . O artista pode assumir uma atitude mais precisa
com o ver e com o olhar ao fazer o que se olhar e vê. Esta visada aponta
para um foco específico e se distingue de outros pelo fazer o que se vê e
olha. O fazer produz um olhar cambiante que se modifica enquanto se
constrói. E, assim desenhar, ou seja, ver e fazer pode produzir um “Desenho
lhar”.
É como um vento que sopra abrindo caminho na névoa da incerteza e, tal como
a intuição, aponta para um conhecimento afetivo do mundo.
Pensando assim, deve-se estimular no artista a observação para desenhar e
pintar. Há aí uma interação afetiva que se inicia dentro da relação do
sujeito com o mundo. Porém, ao introduzir o olhar no mundo da arte deve ter
cuidado, pois, esta ação é imprecisa na objetividade, mas precisa na
subjetividade que conduz o olhar à visão.
Cabe, então, ao artista educador, despertar para a ação de enxergar
permitindo ao aluno desenvolver os sentidos em busca de um conhecimento
estético e afetivo do mundo.
A ação de “verolhar” pode se dar através da observação, pelo exercício de
desenhar, designar o que afeta o olhar e a visão. Um olhar com afeto conduz
a uma visão afetiva do mundo em atitude ver e fazer, fazer e ver, um
desenrolar do olhar, um “desenholhar”.
Guignard conduzia seus alunos ao Parque mMunicipal, para desenhar.
Colocava-os diante da natureza. Deixava-os em frente às árvores durante
horas e horas com o objetivo de neles despertar a observação.
Assim, os alunos se punham a olhar as coisas e as cores de um mundo
objetivo com um impreciso olhar. Um olhar subjetivo que se modificava no
momento em que colhiam aspectos precisos durante a observação, despertando
neles o olhar afetivo.
Ver o mundo e a vida em suas imprecisões, através da liberdade de olhar e
da curiosidade de ver, talvez fosse o modo de como Guignard ensinava o
preciso. Isto é, o modo de enxergar com a precisão da disciplina do olhar
tendo como intenção a liberdade de ver com o sentido de ver o dado, aquilo
que se é dado a ver como o verdadeiro e a disciplina como o desígnio do
olhar, no sentido de ser desenhado, aquilo que é designado pelo
olhar.Então, todo
este procedimento perfaz um “desenholhar”.
O ver visita a verdade vista pelo olhar absorto que se transforma em uma
fonte de conhecimento a qual afeta o próprio olhar. Provocando com isto uma
visão de mundo. Guignard propôs um método em que se tem a liberdade e a
disciplina. Proposta que ele vivenciava em suas famosas aulas ao ar livre
permitindo o desenvolvimento da capacidade criadora como condutora de um
caminho no ensino da arte.
Penso que ao conduzir o olhar em direção à objetividade, tal como ensinava
o mestre, estaremos indicando um “desenholhar”
Assim, após 50 anos de sua morte, ainda vivenciamos na GUIGNARD a
disciplina da Liberdade de ver através do afeto do olhar, porém, sem o
GUIGNARD.
Carlos Wolney Soares
Professor Mestre em Artes Visuais
Vice-Diretor da Escola Guignard-UEMG