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Editora Cobogó lança livro sobre artista mineira formada na Guignard
16/02/2017
A artista Sonia Gomes é frequentadora habitual dos brechós de São Paulo e Belo Horizonte, onde costuma garimpar a matéria-prima do seu trabalho — são tecidos, bordados e objetos que, junto com materiais doados ou descartados, se transformam em esculturas e instalações multicoloridas pelas mãos talentosas da mineira. Aos 68 anos, a artista ganha seu primeiro livro-solo, lançamento da Editora Cobogó, destacando a importância de uma trajetória que trafega entre o erudito e o popular, entre a identidade e a memória. A edição bilíngue, com textos críticos e cerca de 100 imagens de obras de Sonia, será lançada no dia 18 de fevereiro, na Galeria Mendes Wood DM, em São Paulo.
Com ensaios dos curadores Solange Farkas e Ricardo Sardenberg, e texto do artista Paulo Nazareth (no qual faz um perfil poético de Sonia e uma visita ao tempo através do trabalho da artista), o livro reúne obras produzidas entre 2004 e 2016. Em 2015, Sonia foi a única brasileira a participar da Bienal de Veneza. “A arte de Sonia Gomes amarra movimentos e tradições culturais que, de uma forma ou de outra, se relacionam à afirmação da memória, da identidade e do poder transformador da criação frente a situações de vulnerabilidade e invisibilidade. Pela própria natureza, remete à arte feminina da costura, que produziu um legado incomensurável — e, ainda assim, anônimo — de tramas, urdiduras e desenhos, obras de arte usáveis que vestiram e vestem corpos e casas de civilizações inteiras”, escreve Solange Farkas.
A infância de Sonia Gomes, filha de mãe negra e pai branco, foi dividida entre a casa da avó e do pai, após a morte precoce da mãe. A conexão com os tecidos vem desde essa época, em Caetanópolis, cidade próxima à capital mineira que nasceu e cresceu em torno da Companhia de Fiação e tecidos Cedro e Cachoeira, primeira fábrica de tecidos do estado e segunda do Brasil. Com a avó — mulher negra, benzedeira e parteira — aprendeu tudo sobre os rudimentos da costura. Depois, vivendo com a família do pai num ambiente abastado, conheceria a face europeia da artesania têxtil, nos bordados da Ilha da Madeira, Richelieu, além do convívio com uma grande biblioteca.
Formada em direito, Sonia se considerava uma artesã até descobrir que não gostava de repetições, e almejava trabalhar com o que fugisse ao comum. Entrou na Escola Guignard, da UEMG, e se descobriu artista. “Não tenho a menor dúvida de que esse interesse pelos tecidos e suas histórias nasceu em mim”, declara. “Depois, fui absorvendo o que ia observando no mundo. A cultura africana está inconscientemente no meu trabalho, deixo ela vir. Acho que minha obra transita bem entre as culturas popular e erudita, gosto de pensar que ela transita bem em todos os lugares”, acrescenta Sônia.
Trajetória
Nascida em Caetanópolis, Minas Gerais, no ano de 1948, Sonia Gomes hoje mora e trabalha entre São Paulo e Belo Horizonte. Dentre suas exposições mais importantes estão Histórias/Histórias: Todos os futuros do mundo, 56ª Bienal de Veneza, Veneza (2015); Arte Contemporânea do Brasil, USF museu de arte contemporânea, Flórida (2016); Mulheres Artistas de Ninguém da coleção da família Rubell, Rubell Collection, Miami (2015/2016); The Hand New afro-brasileira, Museu Afro Brasil, São Paulo (2013); Art & Têxteis – tecido de material e Conceito na arte moderna, Kunstmuseum Wolfsburg, Wolfsburg (2013).
Com informações de Sopa Cultural
ESCOLA GUIGNARD
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