SEMINÁRIO P&E | Performance artística em Divinópolis provoca reflexão sobre a violência sofrida por LGBT+s durante a ditadura militar e também nos dias atuais
16/11/2017
Grupo Gabiroba – Divinópolis
Na noite de quarta-feira (9 de novembro), o saguão principal do bloco administrativo da UEMG Unidade Divinópolis recebeu a performance “Aos nossos irmãos esquecidos”. A apresentação fez parte da programação do 19º Seminário de Pesquisa e Extensão da Universidade. Protagonizada pelos estudantes Amanda de Freitas Maciel e Mateus Mursa, a ação busca resgatar a memória dos homossexuais assassinados durante a primeira ditadura militar do Brasil e, ao mesmo tempo, demonstrar para o público como as torturas do passado ainda estão presentes nos dias atuais.
Na peça, as dezenas de espectadores presenciaram momentos de tensão, tortura, dor e sofrimento encenados pelos atores. Uma cadeira, um telefone vermelho, dois bastões e dois baldes d’água. Tudo isso num ambiente aberto e, ao mesmo tempo, sufocante. Dois comandantes do DOPS, o extinto Departamento de Ordem Política e Social criado no final de 1924, arbitrariamente, chutaram, bateram e afogaram, por vezes, os dois personagens homossexuais diante da plateia perplexa. O tom de reflexão e o paralelo com os dias atuais vinham dos torturados, que, aos berros, questionaram o público: “Vocês não vão fazer nada? Nós só queremos nosso direito constitucional de ir e vir”.
O ator Mateus Mursa, estudante do 4º período de Psicologia da Unidade, acredita que a função da arte é “colocar o dedo na ferida”. “Sempre que a gente está lá dentro, sinto com se estivesse em estado de transe. Quando a peça termina, a gente tem visão do que aconteceu: tem as pessoas que choram, outras que ficam embasbacadas, outros acham trivial. Raramente, tem alguém que não concorda, pois nós apresentamos a retratação do sofrimento, e isto é algo que afeta diretamente o ser humano. Nunca vi alguém que tenha assistido à peça e tenha saído com a mesma impressão.”
O estudante ainda revela que escolher um recorte da população LGBT+ e o que ocorreu com ela durante a ditadura não foi ao acaso. “As pessoas não só eram afastadas de seus movimentos políticos por serem homossexuais, como também sofriam a exclusão social, violência e morte”.
Durante a encenação, os atores citaram os dados revelados no estudo realizado pelo Grupo Gay da Bahia, em que são enumerados todos os casos de assassinatos causados por LGBTfobia. De acordo com o documento, o número de crimes cometidos são alarmantes: de 130 homicídios em 2000, saltou para 260 em 2010 e para 343 em 2016.
A atriz e estudante do 4º período de História da Unidade Amanda de Freitas Maciel vê nos dados apresentados pelo estudo um paralelo não muito distante do terror vivido pelos homossexuais presos pelo DOPS. “A performance mostra claramente como funcionava a tortura psicológica e física na ditadura militar. Eles eram repudiados, inclusive pelos movimentos de esquerda. O Estado brasileiro não os via como cidadãos, mas sim como aqueles que deveriam ser perseguidos e mortos. E a gente ainda está vivendo uma onda de fascismo de novo e que provoca um desgaste em nós. Ainda que de forma velada, estamos perdendo nossos direitos novamente enquanto população LGBT.”
Texto: Junio Kemil (estudante do 6º período de Jornalismo – UEMG Unidade Divinópolis)
Orientação e fotos: Elvis Gomes (Assessoria de Comunicação – UEMG Unidade Divinópolis)
SEMINÁRIO DE PESQUISA E EXTENSÃO
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